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Quando a esmola é grande...

 

A mulher trazia os troquinhos embrulhados num papel amarrotado. Ao pagar, apresentou as moedas de cobre à menina da caixa, para que ela tirasse os centimos que faltavam. Perante a miséria, a empregada do supermercado pediu licença para tirar três centimos e a mulher negra abriu a palma da mão, oferecendo-lhe tudo o que possuía. Paga a despesa, a mulher voltou a embrulhar os cêntimos que sobraram, como se fossem toda a sua riqueza.

(Lembrei-me da parábola do óbulo da viúva narrada no Evangelho. A viúva, apesar de ofertar duas moedas, deu tudo o que tinha para viver, e deu mais do que os ricos que só oferecem parte do supérfluo.) 

A cena passou-se, curiosamente, numa superfície comercial onde, no dia do trabalhador houve reduções de 50% em compras, acima de 100 euros.

Dois dias depois, muitas prateleiras da loja continuam vazias. Parece que um tsunami varreu a mercadoria.

Quem pensar que a cadeia de supermercados efetuou um acto filantrópico, por oferecer aos clientes metade das compras, engana-se.

No complexo mundo da economia e do marketing, ninguém dá nada a ninguém. Todas as campanhas comerciais têm em vista o lucro. Os investidores sabem-no muito bem, por isso as acções da Jerónimo Martins continuam em alta na Bolsa de Valores.

A Confederação do Comércio criticou aquele grupo, acusando-o de “dumping”, e todos desconfiam, mesmo a ASAE, que houve ilegalidade. Até os fornecedores, obrigados a esperar alguns meses pelo pagamento dos seus produtos interrogam-se, se serão eles a suportar os descontos. Enfim, o clamor dos mais fracos, face ao poderio económico de uns poucos!

Indigna-me a forma como se menospreza os clientes, comentando, ironicamente, que houve a preocupação de ajudar a gestão dos orçamentos das famílias nestes tempos difíceis. Como se um farto cabaz de compras, matasse a fome de um ano inteiro...

Há campanhas comerciais que ofendem a dignidade dos consumidores pois, embora não estejam avisados, são eles quem paga os descontos que, ilusioriamente, lhes concederam.

Uma empresa comercial se decide efectuar uma grande campanha pontual de vendas, por que não o faz também, ao longo do ano? Isso repartiria os encargos dos consumidores mais pobres sem os obrigar a desembolsar quantias elevadas. Muitos deles auferem baixos salários, não recebem  subsídio de férias, estão desempregados e as suas família passam por situações difíceis.

É irónico e de mau gosto, alegar ajuda à gestão de parcos orçamentos familiares, quando se sabe que, perante as dificuldades de crédito às empresas, a captação de dinheiro é o único, principal e grande negócio.

E não me digam que o dinheiro retirado aos pobres servirá para novos investimentos reprodutivos que gererão mais empregos. A lógica capitalista aumenta o produto interno bruto, mas não cresce o indice de desenvolvimento humano, como atestam os dados estatísticos.

O fosso entre ricos e pobres é cada vez mais evidente.

É um escandalo que, já este ano, em Portugal, tenham sido vendidos 92 carros de luxo - Porsche, cujo preço ultrapassa os 100 mil euros, quando o negócio dos veículos comerciais e pesados baixou mais de 45%.

A solução para atenuar os desequilíbrios passa pela solidariedade e pela repartição equitativa dos bens. À semelhança do que fez a viúva que deu pouco, mas foi tudo quanto tinha.

Cabe ao cidadão estar atento, para não ser levado pelo conto do vigário.

Como diz a sabedoria popular: Quando a esmola é grande, o povo desconfia.

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